Comissão de Direitos Humanos debateu a precarização das empresas públicas e demais estatais - Foto: Raíla Melo
Contra propostas de flexibilização das relações trabalhistas,
como estímulos à terceirização, em estudo pelo Governo
Federal, mobilização, ações de rua e paralisação nacional na
próxima semana, primeiro passo para a deflagração da greve
geral. Essa foi a tônica dos pronunciamentos na audiência
pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia
Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada nesta
segunda-feira (13/9/16), no Auditório.
Convocada a requerimento do deputado Rogério Correia (PT),
para debater precarização e terceirização nas empresas
públicas, a audiência reuniu representantes de diversas
categorias de trabalhadores. Entre outros, estavam presentes
diretores do Sindicato dos Bancários, em greve desde o último
dia 6, além de professores, metroviários, petroleiros e
servidores públicos e de empresas estatais.
Durante todo o debate, a palavra de ordem recorrente foi “Fora
Temer”. O diretor da Central Única dos Trabalhadores (CUT),
Jairo Nogueira Filho, e os demais sindicalistas presentes
convocaram os trabalhadores a aderirem ao Dia Nacional de
Paralisação, com atos de protesto programados para todo o
País, marcado para o próximo dia 22.
A audiência, conforme explicou o deputado Rogério Correia, faz
parte de uma série de atos de protesto promovidos pela
Comissão de Direitos Humanos. “Lutamos em defesa da
democracia e dos direitos trabalhistas, como Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço (FGTS) e 13º salário”, afirmou.
Houve protesto também contra as medidas em estudo pelo
governo que apontam para mudanças na Previdência, como o
aumento de idade mínima para aposentadoria e a
desvinculação das aposentadorias e pensões do salário mínimo
e dos índices de inflação.
De acordo com o calendário anunciado pelo parlamentar, a
próxima audiência será nesta quinta-feira (15), Dia
Internacional da Democracia, às 15 horas. No próximo dia 19,
às 14 horas, o tema em foco serão as contribuições de Paulo
Freire para a educação, no âmbito da Semana Paulo Freire.
E no dia 22, Dia Nacional de Paralisação, a discussão vai focar
a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241/16, que
tramita no Congresso Nacional e institui teto para os gastos
públicos. Na avaliação dos participantes da audiência, na
prática, a aprovação da proposta pode resultar no
congelamento, por até 20 anos, das verbas para educação,
saúde, segurança pública e assistência social.
“Não é apenas uma possibilidade; há uma proposta concreta
tramitando no Congresso Nacional, propondo a terceirização e
a precarização do trabalho. Várias categorias estão
ameaçadas, entre elas as dos jornalistas e dos professores”,
disse Rogério.
FHC - Para Carlindo Dias de Oliveira, diretor do Sindicato dos
Bancários de Belo Horizonte e Região, a ameaça de redução
de direitos trabalhistas é antiga, remonta aos anos 1990, desde
os governos Fernando Henrique Cardoso.
A presidente do Sindicato dos Metroviários de Minas Gerais
(Sindimetro), Alda Lúcia Fernandes dos Santos, manifestou
preocupação com a falta de investimento do Governo Federal
na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Ela
expressou receio de que, a partir de agora, além de não investir
nessa modalidade de transporte, a União deixe de subsidiar a
passagem.
“Há dez anos o preço do metrô em Belo Horizonte não passa
de R$ 1,80. Isso acontece porque o valor da passagem era
subsidiado pelo Governo Federal. Mas com os cortes sociais
anunciados pelo Governo Temer, a gente se pergunta se vão
manter o subsídio”, questiona.
Terceirização penalizaria trabalhadores
O representante do Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos (Dieese), Frederico Melo, disse que
a terceirização significa perda de direitos, maior rotatividade da
mão de obra e jornada de trabalho maior.
“É uma experiência negativa para os trabalhadores”, disse,
esclarecendo que o Enunciado 331, do Tribunal Superior do
Trabalho (TST), que regulamenta a terceirização, já
representou perda para os trabalhadores ao permitir a
terceirização das atividades de apoio. "Agora, com a proposta
de terceirizar também as atividades-fim, as perdas vão se
acentuar", afirmou.
Diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de
Minas Gerais (Sind-UTE), Denise de Paula Romano também
criticou o processo de terceirização. Segundo ela, ele já ronda
o setor de educação há algum tempo, prejudicando os
trabalhadores de serviços gerais, de limpeza e os responsáveis
pela merenda escolar.
Gildásio Westin Cosenza, diretor do Sindicato dos Empregados
em Empresas de Processamento de Dados, Serviços de
Informática e Similares do Estado de Minas Gerais
(Sindados/MG), também criticou a terceirização. "Existem hoje,
no Congresso, mais de 60 projetos propondo reduzir direitos
dos trabalhadores e para destroçar empresas públicas”,
denunciou.
Cemig - O coordenador-geral do Sindicato Intermunicipal dos
Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais
(Sindieletro – MG), Jefferson Leandro Teixeira da Silva, disse
que a terceirização na Cemig, a companhia de energia do
Estado, tem custado a morte e mutilação de muitos
trabalhadores. “A cada 45 dias, morre um terceirizado na
empresa”, lamentou.
Já Leopoldino de Paula, do Sindicato dos Petroleiros, disse
que, na Petrobras, a cada dez mortos, nove são terceirizados e
que a carga horária do terceirizado é de 20% a 30% maior.
Plínio Saldanha e Ana Carolina